Operadores de Telemarketing

Esse texto é em homenagem à Janaína… pela paciência de ter que ficar atendendo os telefonemas para shopping da carne (isso existe ainda?!)

Eu classifico a profissão de operador de telemarketing como uma fase da vida dos jovens das grandes cidades; quando percebem que precisam de independência e saem à luta para ganhar o próprio dinheiro. Eles não querem fazer carreira, só precisam estar empregados enquanto pensam em algo melhor. Na verdade eles odeiam tanto o que fazem, que realmente não há como ser simpático sem soar falso (tudo bem, alguns setores são menos estressantes, mas os de reclamação e dúvidas, ninguém merece!).Quando eu era pequena, lembro de escutar a minha mãe BERRANDO com a mulher em diversas ocasiões, chegava a ver aquele raiozinho em cima da cabeça dela. Só que há vinte anos, o sistema era mais precário e essa profissão era ainda mais infeliz. Hoje, com a modernidade e a insolência de vários deles, é comum passarmos horas esperando enquanto eles vão tomar café, nos xingar ou dar um tempo para a cabeça deles (porque ninguém merece um dia inteiro de clientes insatisfeitos com uma empresa enorme e riquíssima, mas quem escuta é vc, que ganha 1 mísero salário mínimo).
 
Não sei se eles selecionam os funcionários em setores de acordo com sua personalidade ou fenótipo, mas eu sempre imagino a moça do sotaque paulista super carregado que me liga oferecendo um super plano com tudo junto em uma conta só, que por sinal é o meu mesmo, como uma jovem de cabelos loiros escorridos que engoliu um gravador. Quando ela termina toda a fala dela, porque antes disso, simplesmente ignora meus avisos, eu explico que nós já fizemos essa troca, e peço, por favor, para atualizar seu sistema a fim de evitar a fadiga (e a falta de ar). As mocinhas de cartão de crédito então, são especialistas em falar sem se importar se a pessoa está interessada ou não em escutar aquela vozinha horripilante.
 
Outra coisa que percebi é que é rara a presença de homens heterossexuais (para não soar como preconceito) que atendem ao telefone ou que nos ligam; tipo no máximo 15% do corpo de funcionários se classifica nesta categoria. Eu tenho certeza que é porque a maioria deles não tem perfil mesmo para lidar com encheção de saco e desistem facilmente. Mulher e gay são mais persistentes, mais sarcásticos, adoram um barraco bem armado e alimentam o ódio alheio até não poderem mais... usando a prática do ‘’vou estar fazendo isso ou vou estar fazendo aquilo”. Aliás esse dialeto quase foi proibido, do tanto que irritou os ouvidos das pessoas que fazem uso desse serviço.
 
Não tem nada mais desaforado e sem educação no mundo que operadora de telemarketing de TPM, você percebe na voz que esta não está afim mesmo de trampar naquele dia e que não será muito produtiva a sua ligação. São as primeiras a dizerem “aguarde um momento, por favor, vou estar verificando” e esse momento vira eternidade. Aliás, é uma combinação explosiva, cliente insatisfeito + atendente de TPM; deveria fazer parte do regimento interno o afastamento de pessoas com distúrbios hormonais, com séria tendência psicóticas.
 
Quando você escuta um “vou estar te transferindo para o setor responsável”, isso quer dizer: “vou estar te dando um chá de espera porque simplesmente não gostei do seu tom”. Mas pior mesmo é ligar na Oi. Primeiro que atende uma voz e diz “Oi, eu sou sua secretária virtual”, e vc tem que esperar ela te dizer tudo o que ela gravou, mas espera tanto tempo em linha e ninguém de carne e osso te atende (vc vê que a pessoa pegou a ligação, porque depois de 5 minutos de musiquinha na cabeça, fica tudo mudo), que chego à conclusão de que a “minha secretária virtual” é a única pessoa que fala comigo. Prefiro ligar na Sky, pelo menos é a voz da Gisele Bündchen, enjoadinha, mas querida.

É isso que elas estão fazendo quando demoram a conversar com a gente…