março 16, 2011

Viagens aéreas modernas

Cat-on-Plane

À Juliana e Alda, que me ajudaram (e muito) a satirizar meu drama…

Eu nunca fui expert em viagens aéreas, 90% das vezes estava sozinha e não podia me agarrar ao vizinho em casos de turbulência; uma vez o serviço de bordo foi cancelado (não foi uma grande perda, nunca fui fã de biscoitos embalados um a um), o clima ficou tenso e eu não tinha ninguém pra falar “eu te amo”, me senti uma joaninha invisível...).

A primeira vez que me aventurei dentro de um avião, fiz o trecho Curitiba/Brasília; passei meus 15 dias de férias economizando cada centavo para trocar a volta de busão, cuja ida me traumatizou. O passageiro ao meu lado era um senhor japonês que tinha 3 filhos, empresário e fazia negócios entre Japão e Brasil (e eu com aquela cara de goiana, era óbvio que eu nunca estive em lugar parecido). Conversamos vários assuntos e chegamos ao de altitudes, que o efeito das coisas, especialmente o álcool, era maior em lugares mais altos. Foi quando o simpático velhinho pediu duas doses de uísque para a simpática aeromoça que me olhou como se tivesse entendido tudo. Sem dar muita importância ao fato de que eu me sentia uma idiota, beber nas alturas dá mais vontade de vomitar do que te deixa mais tonto; ainda bem que existe aquele saquinho emergencial, o melhor serviço de bordo das modernas companhias aéreas.

Pois bem, mesmo sabendo que a maioria dessas novas (e fubazentas) companhias aéreas não oferece cachaça pra galera; depois desse ocorrido, sempre levo um livro ou revista comigo. O fubazenta não é por causa da bebida; pela experiência, deveria ter Lei proibindo (tem?); o problema “são vários” e falta o mínimo do que podemos chamar de conforto, fazendo como única vantagem o tempo gasto de viagem (descobri de uma maneira muito radical que tempo é dinheiro, pois não paguei pelo conforto de viajar de avião, mas pelo pouco tempo gasto. Outra coisa que aprendi é levar qualquer besteira mastigável e engolível quando rolar escala (que é a pior coisa que já inventaram) e nunca despache comida na mala, especialmente quando vc pedir para colocarem “frágil” e eles te ignorarem.

Pois bem, quem viaja de Web-Jet sabe porque pagou quase a metade do valor oferecido pela TAM (a propaganda gratuita se deve ao irônico contraste de como a classe média conseguiu seu espaço no céu, porque web lembra algo virtual, nada muito concreto). O espaço entre as cadeiras foi projetado para crianças de até 12 anos (até conheço uns marmanjos de porte pequeno – né, Juju (s); mas a média do brasileiro criado com Mac Donald’s aumentou e muito), raras as vezes que um adulto consegue sentar sem cutucar o vizinho com o joelho, ou mesmo abrir a mesinha sem encolher a barriga – sem contar quando o encosto da frente está inclinado e tem um cara enorme sentado, é claro que a cadeira sempre cede um pouco mais, e a mesa fica tão torta, que o copo bambeia

E aí chega a hora do lanche, eu penso: “tomara que tenha uma coisa bem legal par comer, já que vou ficar presa aqui por 5 horas (2 escalas sem direito a ver o sol) e já se passaram 3 da minha última refeição”. Não sei o que pensei, já sabia que os serviços de bordo estavam ficando cada vez menores, industriais e menos nutritivos, mas pelo menos eu poderia pedir uma quantidade suficiente pra tampar o buraco do estômago. Foi aí que comecei a sofrer de verdade... quando a moça começou a distribuir minúsculos saquinhos de amendoim japonês com pepsi ou guaraná, além do delicioso suco de laranja de caixinha (com gosto daqueles remédios de vitamina C). Não havia nada – exceto água, que eu gostasse, nem café eles serviam. Assim, em virtude do choque pela falta de hospitalidade (e pela naturalidade das aeromoças em repetir que o serviço de bordo deles era aquilo), Agüentei bem o primeiro ‘boteco de bordo’ e fiquei só com a água mesmo. Fiquei tentando justificar pra mim mesma que esse é o preço que pobre paga para andar de avião.

Quando vi todos se deliciando com o miserento lanchinho, achei que eu estava sendo fresca demais, afinal, era apenas coincidência eu não gostar de amendoim, nem de guaraná e muito menos de Pepsi (já comentei do suco né?). Minha hora demorou muito mais para passar do que a daquele bebê cuja mãe estava munida de papinhas e peito; quase perguntei a ela quanto era a mamada, mas resolvi esperar para ver no que dava. Daí veio o segundo serviço de bordo. Minha cara não disfarçava o tamanho do desgosto de estar ali, minha fome era de cão, eu era refém de um bando de mulheres de cabelos amarelados e mega maquiadas, fiquei pensando o quanto elas gastam por mês e que, se eu fosse aeromoça de uma companhia fubá, levaria comigo lanchinhos da vovó para fazer bicos... Enfim, quase histérica, questionei com as serventes megamaquiadas (só pra provocar a raça) que a minha amiga e colega de trabalho, uma distinta senhora na casa dos 50, era hipertensa e que não poderia ficar muito tempo sem comer, tampouco ficar mastigando aqueles troços de sal japonês, que se elas não tomassem qualquer providência na próxima escala (imaginei que elas me deixariam sair pra comprar qualquer coisa comível e voltaria em tempo recorde, já que eu não poderia – jamais, perder este vôo) a coisa poderia ficar ruim para elas, mas isso não aconteceu, e mais uma vez recusei as ‘migalhas de bordo’ (enquanto a Alda comia sem dó de suas veias e artérias).

O avião pousou, decolou de novo e eu agradeci por ser a última etapa daquele sofrimento sem fim. Tinham se passado 3 horas e o relógio marcava mais de 10 da noite. Queria fingir que dormia enquanto os quilos de pó ambulantes passavam com aquele ‘discurso de bordo’, mas não rolou. Decidi engolir os amendoins para tentar relaxar, abri um saquinho (inacreditavelmente pequeno, parecia que vinha da cozinha da Barbie) e coloquei os 10 amendoins que tinha na boca, para fazer volume. Empurrado com Pepsi (porque ninguém merece arrotar guaraná), nem dava pra sentir o gosto direito, me imaginei no Haiti depois do terremoto, onde comida é rara e bem valorizada; minha barriga agradecia e as meninas choravam de rir com a minha derrota.

Acho que eles começaram a cair de qualidade quando notaram que a clientela não corresponde à primeira classe. Sem querer ofender ninguém, muita gente ainda não sabe se portar em um aeroporto ou em um avião seja ela rica ou pobre, os bons modos sempre ficam em casa (as vezes na casa do caralh..). Morro de vergonha quando a mulher eletrônica mal começa a anunciar o vôo e imediatamente se forma uma fila de pessoas desesperadas, ignorando o fato de que idosos e mulheres com crianças têm preferência de embarque; mal sabem que seu lugar já está marcado, portanto, não precisa correr para sentar na janelinha. Da mesma forma, nada me irrita mais que o momento do pouso, onde as pessoas igualmente desesperadas formam uma fila espremida no corredor do avião, cuja porta nem mencionou abrir. Eu faço cara de chique: continuo lendo minha revista, olho de rabo de olho o movimento e espero aquelas enormes bundas saírem do meu campo de visão. Se sento no corredor, fico vigiando o desespero do meu colega de banco, agoniado para sair junto com a cavalaria...

Assim, tive uma lição muito importante: cada tipo de consumidor tem o mercado que merece (e o resto da civilização paga o pato).

8 comentários:

Aeromoça disse...

gostei! muito bom!!

Meio Aereo

Meio Aereo

Fábio Dino disse...

Oi Fabiana. Vou te falar uma coisa, foi no final de 2008 que viajei de avião pela primeira vez. Lembro desde criança ouvir falar muito bem do serviço de bordo. E quando finalmente tive oportunidade fiquei decepcionado. O pessoal é atencioso e educado, mas achei muito estranho, como você disse, ver aqueles biscoitos embalados um a um, tudo mini: geleinha, bolachinha, biscoitinho. E o pior de tudo, viajar de avião pra mim é como andar de ônibus, de micro-ônibus, etc... Quero dizer que, independente do lugar, é bem provável que a poltrona ou cadeira não é para uma pessoa de 1,90m e 100kg. Eu gostei muito da parte final do seu texto, quando vc diz: Acho que eles começaram a cair de qualidade quando notaram que a clientela não corresponde à primeira classe. Eu sempre acreditei que o motivo era exatamente esse, existem muitos exemplos disso, basta prestar atenção. Não é menosprezo com as pessoas de menor poder financeiro (eu sou uma delas), mas as coisas são assim.

Unknown disse...

Oi Gente! obrigada pelos comentários!
Quando eu era pequena meu tio viajava muito de avião e sempre trazia consigo talheres e outros utensílios que para uma criança era o máximo! por isso, fazia bastante expectativas sobre essas viagens... Ainda bem que quando viajei pela primeira vez eu já era adulta, senão eles iam destruir os sonhos de uma criança...

KL disse...

rá, bons tempos q as crianças q viajavam sozinhas tinham tratamento vip. semana passada, tive q pagar 20 reais, na gol, dentro do avião, pra comer um sanduixe podre, com um guaraná e um pacotinho de rufles!!!! 6 horas de voo e vc só come se pagar!
tá demais
odeio viajar de avião, mas ainda odeio mais o onibus...
kkk

Luciana O. L. C. Ferreira disse...

ops
fui eu heim

Unknown disse...

é amiga, viajar hoje em dia pelo Brasil não é muito sinal de status, mas antes pagar por um mísero lanche do que passar fome em um avião apertado. E andar de busão também não faz muito a minha, apesar de ter outras histórias hilárias sobre isso! Beijão, volte sempre por aqui

Unknown disse...

Ei Fabi!
Quanta saudade sinto de você aqui neste sertão!
A Alda continua devorando tudo que há de salgado inclusive uva com sal, rsss...

Unknown disse...

kkkkkkkk, realmente é a cara dela!! muita saudade de vcs, com convite aberto, sempre!!! Beijos, tudo de bom e volte sempre por aqui!