julho 22, 2011

O custoso de Custódia - Água

Essa é uma série de crônicas que escrevi durante meus aventurados 10 meses trabalhando em um ambiente completamente diferente do meu. Veja bem: diferente; nem melhor, nem pior, apenas algo fora dos meus costumes.



Se parece redundante seca e sertão, é de se imaginar que água em Custódia é uma das coisas mais custosas de lá. Nota: não é assim em todo o semi-árido, há cidades que possuem ótima qualidade de água, geralmente subterrânea. O Piauí e Ceará são os mais comentados da região. É de se imaginar também que os açudes (de Custódia) estejam consideravelmente sujos e mal cheirosos, tem cor de tinta guache verde-limão, quando não estão completamente gramados por algas que se alimentam de sujeira humana (você olha de longe tem a impressão de ser um campo de futebol ‘verdimmm’)... independente da cor, vê-se sempre crianças, bodes e porquinhos brincando alegremente juntos nessas escassas águas.

Bom, voltando ao assunto, o sistema de abastecimento de água é um pouco precário, por isso é comum o que eles chamam de cisterna: uma caixa em alvenaria, geralmente sob um dos quartos (sim, os quartos dos fundos geralmente são sem fundo), onde se pode armazenar água em um compartimento maior do que as simples caixas d’água. Lamentavelmente, vi poucas construções projetadas para guardar água da chuva, ou reaproveitamento para descargas de banheiro. De qualquer forma, a água encanada só chega quando chove (ou seja, durante 3 meses do ano), o resto fica por conta dos caminhões pipa (tem os burrinhos-pipa também, que transportam galões com água para abastecimento doméstico, mas m-o-r-r-o de dó dos bichinhos, eles já tem aquela cara triste de sofrimento...). Mas o problema em geral é que nem sempre (leia-se ‘quase nunca’) a qualidade é garantida, muitas vezes sentimos aquele cheirinho de água parada. Uma vez as meninas da república reclamaram muito do mau cheiro e eu aconselhei a jogarem água sanitária na cisterna, mas elas exageraram tanto, que no outro dia tava todo mundo se coçando.

Cozinhar com água da torneira era uma tarefa corajosa, muitas vezes eu associava aquele feijão aguado sem cor do melhor restaurante da cidade, com a água suja que saía dos encanamentos de minha casa. Mas maior dificuldade era ter coragem de lavar os cabelos... Outra vez, choveu tanto na noite anterior que enlamaçou toda a água do açude (nem fala nada, a água descia tão barrenta pelo chuveiro que entupiu os buracos!!!) tenho uma amiga que ficou com tanta dó de seus cabelos que recorreu aos galões de água mineral, tinha um estoque em casa para lavar suas madeixas. Eu já tive o luxo de tomar banho com água mineral, mas a raiva que eu estava por ser tarde da noite e nada de pipa, era tanta, que nem deu pra representar!

2 comentários:

Anônimo disse...

Querida, custosa mesmo...
Está no passado, graças a Deus!

Unknown disse...

Sim, mas as lembranças estão bem vivas!! ainda bem que sempre fazemos amizades tão verdadeiras que tudo vale a pena!