janeiro 23, 2012

A convivência pacífica com o lixo

 

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Pode parecer um título pesado, mas a verdade é que (em minha opinião) aquele que não destina pelo menos o mínimo de seu lixo à reciclagem, é conivente com a poluição do mundo por resíduos sólidos não degradáveis, com milhares (e milhares) de contaminantes do solo e da água (falei bonito né? Eu treino...). E um dia, quando ele bater de volta na sua casa por falta de espaço (e também na minha, porque sou só uma formiguinha no meio de elefantes), ou mesmo quando um shopping explodir porque ele foi construído sobre um aterro sanitário, ou ainda (empolguei!) quando houver mais uma enchente na velha cidade entupida de sacos plásticos, e até mesmo a triste importação de lixo estrangeiro, que nem sempre é pano esterilizável; alguém vai entender porque a melhor solução para TODO o lixo produzido no mundo é a reciclagem... tá bom, exceto papéis higiênicos, fraldas descartáveis, absorventes, camisinhas... TODA sujeira de excrementos (pensando bem, não sei se os lençóis hospitalares entrariam aqui...), mas com certeza ia ter espaço, porque os aterros não estariam superlotados de plástico, ferro, vidro, papelão e blábláblá...

Tá bom, que chata, eu sei, mas é foda fazer reuniões em ‘frentes de obras’ para explicar à peãozada que não rola jogar o maço de cigarro e a porra da marmita no meio da estrada que eles estão construindo; tem nego tão fídumaégua que abre a tampa da ‘quentinha’ e solta ela no vento para vê-la voar; eu duvido que já consegui convencer alguém dessas obras a perder seus hábitos ‘milenares’. Por isso, não tem desculpas para quem entende do assunto. Sempre podemos fazer alguma coisa, mesmo começando do mais fácil, que é para evitar a fadiga...

Mas voltando ao assunto de Custódia, das cidades que já passei, de longe, as mais sujas estão no sertão do Pernambuco; sinto muito aos nativos, principalmente àqueles que fazem algo, mas muita gente concorda comigo (podem se manifestar, por favor). As sacolas plásticas imperam no ranking, elas estão em toda parte, voando displicentemente nas cidades e estradas. Sinto que a educação ambiental por lá não chegou junto com as modernidades alimentícias, embaladas uma a uma, e o cenário é um vasto e colorido lixo na estreita faixa do Estado, talvez dê para comprovar nas imagens do Google Earth.

O problema de Custódia se agrava com o fato de que ninguém pega outra coisa que não seja lata de alumínio (a de aço não serve). Na verdade, meu (ex) vizinho trabalha com PVC, o que não me ajudou em nada. Portanto, tive problemas desde o início. A começar com a mudança, onde todas as coisas foram mega embaladas, até as pedras e os pequenos troncos que levamos do jardim foram embrulhados para não serem danificados, tudo com muito papel jornal, caixas de papelão e fitas adesivas, um serviço de prima!

Quando todos os móveis foram arrumados (fora as caixas de itens pessoais), tinha papelão até o teto. Eu até imaginei que algum catador ia ficar muito feliz com um troco extra, mas quando toquei no assunto, a galera de lá que nos ajudava riu dizendo que aquilo não dava dinheiro e o mais certo era tacar fogo! No dia eu não deixei; aquele lixo ficou por ali durante umas semanas, até que alguém o levou para o terreno baldio e queimou tudo. Aliás, eu acho a galera de lá meio piromaníaca, porque todos os dias há um lixo pegando fogo em algum lugar próximo de você (de preferência nos fundos da sua casa, enfedorando seus lençóis no varal).

Mesmo assim eu procurei incessantemente uma forma de evitar que tudo que eu comesse fosse para o lixão a céu aberto da cidade (até porque a cidade inteira era o lixão), e esta foi a época em que mais comi coisas de caixinha. Acabei acumulando meus ‘resíduos sólidos recicláveis’ pelos 10 meses que morei lá, em um dos quartos sem janela da minha casa. Ainda bem que tudo era bem lavado, limpo e seco, mas houve dias de TPM que eu tinha que me segurar. Por fim, no último mês de estadia naquela cidade, o pessoal do escritório, encabeçado pela equipe de educação ambiental, fez contato com uma empresa em Arcoverde para destinar nosso lixo, e pude finalizar aquela missão que me parecia impossível.

A cidade inteira estava em obras, com novas casas e até novos bairros (devido à transposição do são Francisco e a ferrovia transnordestina, havia 5.000 novas pessoas morando por ali) e os restos de construção civil ocupavam as ruas durante meses (vide foto, pra não dizer que sou chata...).

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O uso de materiais descartáveis também não parecia um problema para os moradores de lá; fora as sacolas, mania brasileira, os restaurantes utilizavam copos descartáveis sem medidas, pois os copos eram duplos – ‘para ficar mais firme’, e o gelo vinha em outro copo duplo, pedia mais gelo, mais copos duplos enchiam a mesa, ao final, cada casal consumia em média 6 copos descartáveis por refeição (300 ml), aquilo era um exagero sem fim, um descaso com o sustentável. Com pouco tempo de frequência os garçons se acostumaram a nos servir copos de vidro, mas não me lembro de mais pessoas se incomodarem com esse detalhe.

A coleta de lixo da cidade era totalmente deficiente, e só atendia alguns setores; os animais, inclusive as vacas, rasgavam os sacos e ajudavam a espalhar toda a sujeira daquele povo. Os pontos onde o lixo ficava era uma podridão, e vocês podem imaginar que todo tipo de bicho passava por ali...

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Algumas vezes o lixo apodrecia dentro das casas antes de irem para as ruas e o cheiro era insuportável, como foi o caso do meu vizinho (de parede, porque as casas são emendadas), que teve a gentileza de colocar o mais fedido lixo que já cheirei na face da terra, bem na porta da minha casa (ele devia me adorar!). É difícil explicar, mas quando eu falo porta, é porta mesmo, minha casa não tinha área externa, o lote inteiro era a casa. O negócio tava tão feio que fedia carne podre de 7 dias fora da geladeira, eu pensei que podia ser um bicho morto em algum lugar da casa (obra de gato), e saí doida em busca da carniça. Descobri a origem quando um amigo chegou e comentou o mau cheiro, entregando o autor da façanha (ele viu tudo de longe, o cara saindo, colocando e voltando, tudo não durou 10 segundos!). Resolvi devolver o presente; peguei um saco limpo para reforçar (a parada ainda tava furada e escorria uma gosma ‘muito cheirosa’), mudei de porta e fui lavar a calçada. Menos de 2 minutos depois, o cara sai da sua casa, vê o saco e sem saber o que fazer com aquilo, me olha meio sem jeito. Eu logo disse: “sinto muito, vai ter que arrumar outro lugar pra isso” e sugeri um poste há uns 50 metros que era ponto de coleta de lixo e não dava na porta da casa de ninguém. Mas acho que ele não teve estômago para carregar aquela podridão por 50 metros, pois só atravessou a rua estreita e largou o que lhe parecia um fardo.

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4 comentários:

Janaina disse...

Falou bonito mesmo, irmã. É com trabalho de formiguinha que a gente consegue alguma coisa. Acho que você já pode ser promovida à tanajura.

Unknown disse...

kkkkk Adorei o tanajura! Pelo menos é um incentivo...

Luciana disse...

Kkkkkkkkkkkk. Me lembra quando eu estudava no sigma e passaram de sala em sala pra falar sobre a coleta seletiva, q estavam colocando lixeiras específicas e coloridas e tal. Até o dia em que vimos o tio da limpeza esvaziar todas as lixeiras no mesmo saco de lixo!!!!! É até engraçado. Aki em casa a gente separa os plásticos tipo garrafa pet, de amaciante, xampu; e os papéis mais duros, caixa de sabão em pó, de fósforo; aí a gente doa pros recicladores q vêm pegar todo mês. Mas não é querendo ser a heroína do planeta e falando q eu faço a minha parte e blá blá blá, é costume, já era assim quando cheguei aqui. O mais legal é q quem instaurou essa rotina foi a Tio! Ela faz 88 anos esse ano e vai sair daqui antes da gente! Ela poderia não estar nem aí, não vai nem pegar a guerra da água. Mas a situação tá ganhando espaço até nos mais velhos, e Axo isso mt massa.
E falando em gatinhos, nasceram 5 filhotes da Cleopatra (q eu peguei em um bar e trouxe pra casa) e só 1 ficou conosco. O coitadinho do loirinho se chama Tchetcherere Tchetche e está com catarata! Só tem 4 meses! O vet quer esperar mais pra fz a cirurgia, mas o loirinho tá tão bonitinho vesgo q da vontade de deixar! Kk
Bj

Unknown disse...

KKKK coitado do gatinho, que nome comprido é esse (e feio pra caralho!! kkkkkkkk) mas gatos amarelos são minha paixão! Não sei se é a semelhança...

É Lu, 90% das empresas no Brasil, que devem fazer um plano de gerenciamento de resíduos, só fazem pra inglês ver...
Fala pra Tio que sou mais fã dela ainda por causa disso!!
Meu medo agora é que depois dessa novela da globo, que se passa num lixão, as pessoas acharem que farão favor se mandarem seus lixos para os horrendos lixões, pra fazer caridade....