janeiro 13, 2012

Os Bichos de Custódia

Este texto é em homenagem ao casal Maria Lúcia e Paulo Henrique, que desde sempre carregam a natural responsabilidade sobre os animais e lutam como podem para os protegerem.

Gatos e cachorros vivendo nas ruas são uma problemática em 99% das cidades brasileiras, mesmo com ONGs, CCZs, e almas boas que adotam animais, esses seres se reproduzem em uma velocidade bem maior do que os esforços atuais.

Mas em Custódia a coisa é mais misturada, existe uma variedade de bichos nas ruas que impressiona; alguns têm dono, outros não, mas todos estão na mesma condição: procurando comida (e talvez água né, estamos no sertão...). Praticamente todos os animais domésticos que estudei na faculdade, encontrei nas redondezas da minha casa: porco, galinha, jumento, cabra; até vaca eu vi pastando pelos terrenos baldios e pelas ruas de chão de pedras, fuçando no lixo e mugindo durante a noite. Tem uma que carrega um sino que escutava de longe...

Os burrinhos também são bastante barulhentos e no bairro onde eu morava havia uma dezena deles, ariscos, eles parecem cientes do fim que lhes restou; lançam aquele olhar triste e vazio para você e andam com vagareza toda vez que se precisa espantar um para entrar com o carro dentro de casa. Essa espécie foi a que mais me chocou, eles simplesmente perderam sua função e foram abandonados, mas continuam se reproduzindo e vivendo por ali. Virou uma problemática nas rodovias do nordeste, causando acidentes, sempre fatais, seja para os animais, seja para humanos. A cena do filhote na beira da pista ao lado de sua mãe atropelada sem vida me marcou muito. Assim, os burros me passam a impressão das mazelas da vida, dos problemas sem soluções, porque este é o menor dos problemas desse povo (o maior pra mim chama-se saneamento básico).

Se burro é problema, o bode é solução... a feira de segunda (em cada cidade é um dia diferente) é bastante movimentada e sempre tem bodes vivos, prontos para o abate, que acontece ali mesmo, na porta do açougue, uma beleza para quem se impressiona fácil! Eu não teria coragem de levar minha filha (se tivesse uma) para assistir aquela chacina. Pior de tudo é que, para mim, apaixonada em animais (vivos) é um sacrilégio dizer isso, mas a carne de bode é uma dÉlicia! Macia e saborosa, ela me encantou desde o início e eu comia todos os dias que almoçava na rua, guisado ou assado, eu ia sempre no bode. Não gostava muito de pensar nisso, pois eu sabia que eles estavam ali devido às condições de sobrevivência (do animal, por agüentar o calor do sertão e comer até cansanção, e do homem, por poder comer ele); aproveitava-me do fato de que aquela era a carne da região, que por sinal, muito gostosa...

O bode é tão tradicional que em cada esquina há um rei do bode. Quando o pessoal nos convidava a ir a algum lugar comer, simplesmente falavam: vamos ali, ‘no’ bode assado. O animal é tão comum que eles são levados para a casa. Um dia eu estava bem tranqüila na minha casa e escutei um choro muito alto, meus gatos entraram correndo aflitos e ao mesmo tempo super curiosos... quando fui aos fundos colocar roupas para lavar, o choro aumentou; meu gato amarelo me arregalou os olhos e subiu no muro, espiando aquele ser gritante. Eu não agüentei... peguei um banco alto e subi nele; eu não queria acreditar que aquela senhora tão legal havia colocado um bode na casa dela, um jovenzinho tão branquinho e fofo... como ela teria coragem de matar ele?! Mas a verdade é dura. Ainda bem que ela não me chamou para o banquete, pois como disse, me apego fácil...

Aliás amimais de criação (os alimentícios) são super valorizados por lá. São várias as casas que possuem seu próprio leitãozinho de natal. O porco é criado amarrado ao pé de uma árvore, como se fosse mesmo um cachorro, até que ele chegue à idade e peso para servir à mesa de seu dono... Assim deve ser com as vacas que pastam no lixo, ou sei lá porque elas são criadas na cidade...

Saindo da facul e passeando pelas campanhas de monitoramento da fauna silvestre, vi seres do mato em abundância na cidade. Algumas espécies são características de lugares antropizados (degradados pelo homem), mas só na minha casa apareceram 2 cobras cipó procurando casa ou comida e quase foram comidas (pelos gatos, tá?!). Um dia vi um reboliço na rua quando chegava do trabalho, eram homens enormes tentando dar uma paulada em uma pobre cobra (outra cipó), fiz o Fred catar a cobra para soltarmos em um lugar bem longe (acho que eles nunca entenderam o porquê daquilo, soltar uma cobra...). Pererecas e sapos nem deveriam ser citados aqui, porque existem em qualquer cidade, mas o que impressiona é a quantidade de cururus que ficavam na porta das casas se alimentando dos insetos que voavam sob a luz dos postes de iluminação pública (que ficavam grudados nas casas, não sei bem os motivos, mas com certeza não eram de segurança!). Um dia contamos 45 sapos pulando na minha calçada, a Betânia, uma grande amiga que me ajudava com a limpeza, tinha fobia de anuros e se não saísse até as 5 da tarde, ficava presa dentro de casa me esperando e morrendo de chorar; eu curtia tanto com a cara dela, é igual minhas irmãs terem medo de borboleta bruxa, sem noção!

Outra vez fomos chamados para resgatarmos um furão que estava atazanando a vida dos trabalhadores de uma oficina, era certa a morte dele, mas ficaram sabendo que a gente trabalhava com meio ambiente, então resolveram dar uma segunda chance ao bichinho. Outro mamífero corriqueiro era o preá, um dia vi meu gato preto voado atrás de um na estreita área dos fundos da casa, este não conseguiu escapar com vida, mas era invariavelmente assim: quase todos os dias eu treinava meus dotes em resgate de fauna silvestre e meus gatos encontravam alguma diversão naquele pequeno espaço.

imagePraça em construção em frente a casa onde morei. hoje a praça está concluída e os burrinhos tem onde sentar!

2 comentários:

Camila disse...

Oi irmã linda!!! Sinto muita saudade... Precisava falar da BORBOLETA BRUXA? O pior é ter que pedir para o João Victor que só tem 6 anos para tirar uma daquelas que eu tenho pavor da porta da sala enquanto eu esperava do outro lado da rua!! Mas tudo bem.. Beijos

Unknown disse...

Mi, foi mal, mas tenho isso na minha memória desde pequena, foi inevitável! Mas se vc tiver medo de outro ridículo bicho, eu mudo aqui... hehehehe
saudade demais da conta! Te amo